19 agosto 2011

O Auditório


A musa desconhecida

O AUDITÓRIO... A REFLEXÃO
Dedico-a professora Drª Maria Inês

A primavera do hemisfério Sul do planeta se faz presente, na vida, em tudo... o senhor idoso sai de sua casa ruma a uma sociedade onde homens e mulheres fazem argumentações, críticas sobre o conviver da terceira idade.
Os passos pelas ruas já demonstraram uma certa lentidão, mas crianças jogando futebol tiram-lhe um largo sorriso do rosto, outras pedalam suas bicicletas alegres e descontraídas, pensa ele ainda há inocência neste velho mundo podre e fétido...
Aproxima-se de uma estação de metrô, junto ao portão de entrada, em sentido da saída várias pessoas caminhavam...aleatoriamente escolhe um casal e os aborda. Lança uma pergunta sobre uma estação qualquer, com atenção o casal lhe dá orientação. Para um cineasta a cena seria narrada em plano geral da entrada da estação, abordagem ao casal, nosso personagem gira 180° recebe a informação... mas seus olhos atentos haviam feito um rastreamento de sua trajetória anterior.
Mais uma vez sabia que estava sendo seguido pela polícia política, adentra a estação Psicólogo Doutorado pela Universidade de Bonn há muito tinha elaborado sua paronóia... era convictamente sabedor do controle do estado sobre a individualidade da sociedade... é latinoamericano de nascimento, bem como o solo em que transita...
Agora após comprar passagens, aguarda o metrô, na plataforma um músico solitário toca um saxofone aos pés a caixa do instrumento angaria o pão de cada dia, aproxima-se do artista depositando nela um bilhete do metrô e uma moeda. Lança um olhar ao músico artista, este em retribuição enche mais ainda seus pulmões... fecha seus olhos lentamente reabrindo-os logo após ainda com foco no personagem... artistas em cumplicidade...
Os trilhos rangem, os vagões aproximam-se, o som Bethoveniano trava um duelo com a máquina, homens, mulheres, crianças se acotovelam no entrar e sair pelas portas, o apito avisa vamos partir e eis que em um pulo ágil nosso personagem está na plataforma e um agente enclausurado é levado pela máquina...
Tem alguns segundos para pensar... os rádios portáteis e telefones celulares funcionariam dentro dos túneis do metrô? A próxima estação está a que distancia em tempo cronológico? Seria só um a persegui-lo?
Que triste fim de vida deste ser humano, havia formado-se em Psicologia na Faculdade Paulista de Medicina aos vinte e sete anos, bolsa de estudos de Bonn, aos trinta e um defende teste sobre “Toxicologia e seqüelas neuronais”, em banca pública é aprovado com honra ao mérito, retorna a Latino-americana abrindo consultório clínico...
Nos seus últimos dezoitos anos, praticava a psicologia atendendo somente profissionais da área... Mulheres analistas mulheres...
A carga psicológica trazidas por elas ou “transferências neuróticas psicóticas dos analisados” era elaborada e orientada pelo já idoso profissional... Muitas delas ao sair do consultório exclamavam “Dr. Estou Limpa!... que bem o Sr me faz!”...
Nestas ocasiões sua resposta invariável incisiva não se fazia esperar “Doutora trabalhamos com seu material em conjunto, não me intitule com adjetivos que a nós pertence!” mas ...
A plataforma, os transeuntes, o artista, o doutor, a polícia política, as escadarias, a saída, o táxi, as avenidas e seus faróis, os prédios circundantes... o auditório da sociedade dos homens e mulheres da terceira idade...
Cineastas! A câmera em grua a uma e cinqüenta do solo, junto a linha amarela de segurança registra paredes laterais, portas, janelas em alta velocidade, riscando a tela sentido esquerda direita. Antes de o último vagão aproximar-se sobe a câmera rapidamente em giro de 90° e a grua desliza pela plataforma a dois metros e setenta, três metros em busca do rosto de nosso personagem em detalhe... Agora esta tomada vai diluindo-se em sobreposição começa a aparecer o auditório, os prédios circundantes, faróis e avenidas (o rosto em detalhe começa em sobreposição a surgir) o artista, os transeuntes, a plataforma. Este rosto agora total em detalhe em tela, vê um câmera em grua afastando-se dele, mostrando o auditório, quebra da percepção da linguagem fílmica, o público agora é sabedor do olhar do personagem sobre o próprio filme...
O auditório agora pertence ao olhar a câmera do personagem... inicia a fala em voz calma e pausada, mas firme!
Senhores e senhoras, não possuo a capacidade do ilusionismo nem pretendo tê-la, estou nesta reunião a convite de uma profissional da área, o tema proposto é o uso de drogas em nossa sociedade... (faz uma longa pausa em olhar profundo aos seres humanos do auditório... existe perplexidade de todos).
Pois bem, imagino estar falando com drogados e o julgamento agora é pessoal individualizado ou vocês são inocentes ou tenham a coragem ao admitir culpabilidade não a mim, mas a seus filhos, netos, bisnetos...(neste momento é interrompido abruptamente por uma mulher de aproximadamente sessenta anos).
- Por favor, pare! Perdi meu filho por causa da minha própria cocaína, dez anos de terapia e ainda sinto culpa! Por favor, pare!
Perdoe-me senhora e agradeço sua coragem em automatismo psicológico, outros tantos aqui dentro deste auditório foram atingidos, mas o medo de exporem-se não os permitiu fazê-los.
Existe um rastro de destruição psicológica familiar aqui nos presentes, por extensão a nossa civilização, mas, no entanto, muitos fazem-se de cegos, as seqüelas dos próprios e seus descendentes, já imaginaram o não elaborado de suas trajetórias transferidos a eles... (mais uma vez interrompido agora um homem perto também dos setenta anos...)
- O senhor está me humilhando muito!
Não é esta minha proposta! O senhor está em auto-humilhação, o material psicológico de sua trajetória é que o está fazendo, portanto, controle-se! Suas dores psíquicas são suas, dos familiares e contornantes, por analogia comparada da sociedade... (uma pausa breve...auditório em silêncio idêntico a um trovão em meio a tempestade, calando por completo os animais circundantes a quilômetros).
Senhoras e senhores, não tenho a pretensão de aprofundar-me mais no assunto, penso ter dado um alerta a todos os presentes... tocamos em conjunto em neuroses e psicoses coletivas... dramas e tragédias... cabe aos presentes o reflexionar sobre o aqui ocorrido hoje.
Muito obrigado.
(Sem esperar aplausos, nem lança o olhar a sua amiga também doutora... parte rumo a sua casa...novamente estará sobre controle da polícia política!).
Inverno 2011

FILHOS DA PÁTRIA

Os meninos correm LIVRES...
Não são marimbondos
Mas já dominam a luta
Pela sobrevivência

Querem livros, bala, pão, água
Açúcar, mel, carne, cerveja
Querem LIBERDADE e AMOR

Vai um Presidente
Nasce um ladrão
A Pátria amada
Chorada, Presidente, Ministro, Senadores, Deputados
Prefeitos, Vereadores, Governadores e demais coadjuvantes...
Com bola, chute e gol, cachaça, batuque
Carnaval, CNBB, Rabinos, Pastores... pobres operários.
CONSTITUIÇÃO
Pátria é só isto?

Lua robotizada
De uma terra
Que fede clamando
JUSTIÇA.

Falar do Brasil
CLARO que está ESCURO.

Inverno 2011

Um comentário:

Edu disse...

Oi Dagoberto! Meu nome é Eduardo, eu sou o cara sujo q te pediu dinheiro na república! Muito interessante seu blog, gostei da mistura texto/desenhos! parabéns!

Abraço